Cuba VII – Cienfuegos

Atualização: eu estive em Cuba em 2015, então considere que algumas coisas mudaram por lá nos últimos anos, em especial no que se refere ao acesso à tecnologia.

Outro destino que vale a pena conhecer para quem vai explorar o interior cubano é a encantadora Cienfuegos, capital da província de mesmo nome.06jan15_039_Cienfuegos_praça Jose Marti

Cienfuegos é uma cidade costeira, localizada numa baía também homônima, e que por sua beleza foi por muito tempo chamada de “a Pérola do Sul”.

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Cienfuegos está a cerca de 240 Km de Havana

A cidade foi fundada por colonos franceses em 1819 em uma região produtora de café, tabaco, manga e cana de açúcar. E seu auge foi justamente no boom da produção de açúcar no século XIX .
O que mais chama a atenção é justamente a arquitetura com influência francesa – diferente de qualquer outra cidade cubana – especialmente em torno da praça central, o Parque Martí.
Cienfuegos tem também uma bela praia, além de um “malecon” como Havana.

Vamos conhecer melhor a Pérola do Sul cubana:

Como chegar

Cienfuegos está a cerca de 240 Km de Havana. Eu cheguei de carro vindo desde Trinidad pela bela carretera 12, já citada aqui.
Os ônibus da Viazul ligam a cidade com vários destinos, como Havana, Trinidad etc.

O que fazer

O ponto central da cidade é o Parque Jose Martí (ou Plaza de Armas). É uma bela praça ao redor da qual está o conjunto arquitetônico mais interessante da cidade.  Vale a pena não só passear pelo local, como também sentar em um banco e ficar vendo a vida passar, especialmente a partir do final da tarde e à noite.

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Parque José Martí, a praça central de Cienfuegos

Entre os edifícios mais interessantes ao redor da praça estão o Palácio do Governo, Palácio Ferrer, Teatro Tomás Terry e a Catedral de Nuestra Señora de la Purísima Concepción.

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O bem cuidado Palácio do Governo

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O Palácio Ferrer é um pequeno museu e é possível subir até a torre, de onde se tem uma bela vista da praça

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O Teatro Tomás Terry

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À noite a praça fica bem animada. Esse prédio, ao lado do teatro é o Colégio San Lorenzo.

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Catedral de Nuestra Señora de la Purísima Concepción

A praça possui também um arco do triunfo (Arco de los Trabajadores), herança da colonização francesa e único existente em Cuba.

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O Arco de los Trabajadores

O Boulevard de Cienfuegos é um bem cuidado calçadão para pedestres que termina na praça e é um bom local para passear e comer, mas também é o local preferido pelos pedintes e desocupados, que com certeza irão incomodar.

Uma ótima sugestão de passeio é percorrer a pé os cerca de 4Km que separam o Parque Martí da La Punta seguindo pelo Paseo Del Prado, acompanhando o malecon de Cienfuegos. Em tempo: malecon significa uma estrutura construída para proteger a costa da ação das ondas do mar.

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Trajeto a pé do Parque José Martí até La Punta

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O malecon no trajeto até a Punta Gorda

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Vista do malecon. Apesar de bonita, a baía não está muito bem cuidada em Cienfuegos, sendo possível ver lixo no mar em alguns pontos

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Um casarão no malecon

La Punta (ou Punta Gorda) é o extremo Sul da cidade, uma pequena faixa de terra cercada pelo mar. Além da linda vista, existem alguns prédios antigos bem interessantes para serem vistos na La Punta, com destaque para o Cienfuegos Club, o Palacio Azul e o Palacio de Valle. Este último, finalizado em 1917, foi construído para ser um cassino, mas acabou nunca tendo essa função. É uma impressionante mistura de estilos gótico e indiano e conta com um minarete em estilo árabe. Hoje abriga um restaurante, mas também podem ser feitas visitas (pagas) somente para conhecer seu interior.

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Cienfuegos Club

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O Palácio de Valle fica bem no extremo de La Punta…

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…e no prédio funciona um restaurante não muito barato.

E Cienfugos também tem sua praia, a belíssima Playa Rancho Luna. Apesar de ser meio distante (18 Km do centro da cidade), vale muito a pena conhecer, as águas são transparentes e o mar praticamente sem ondas. Assim como em Trinidad, é preciso atravessar um hotel para chegar na praia, mas não se paga nada por isso. Como eu estava de carro não tive dificuldades para ir até a praia, mas creio que existam ônibus ou vans que vão até lá, além dos táxis, claro.

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Mar calmo e águas limpas na Playa Rancho Luna

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Playa Rancho Luna

Além dessas atrações, há mais algumas em Cienfuegos que não visitei por falta de tempo ou por serem mais longe da cidade, como a Fortaleza Nuestra Señora de los Ángeles de Jagua e a cachoeira El Nicho, além de passeios pela baía ou pela Lagoa Guanaroca e alguns museus.

Onde ficar

Fiquei no hostal Ksalinda e acredito que foi uma boa escolha. É a casa de família com localização mais central em Cienfuegos, pois é a única que fica no Parque Martí.

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Hostal Ksalinda. Na verdade apenas a parte direita do casarão pertence ao hostal.

O proprietário, Yosley, é meio doido e vive correndo o dia todo, mas atende super bem e está sempre disposto a ajudar. Os quartos são muito bons para o padrão cubano, com TV, ar condicionado e banheiros privativos e limpos.
O café da manhã é simples, mas bom.

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Quarto aprovadíssimo no Hostal Ksalinda…

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…com um bom banheiro também.

Cuba VI – O que ver e fazer em Trinidad

Atualização: eu estive em Cuba em 2015, então considere que algumas coisas mudaram por lá nos últimos anos, em especial no que se refere ao acesso à tecnologia.

A belíssima Trinidad, uma cidadezinha colonial entre a imponente serra do Escambray e o mar do caribe, é com toda certeza uma das mais belas do interior cubano.

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Igreja e mosteiro de São Francisco, Trinidad

A combinação entre prédios históricos, estreitas ruas de pedra, boas praias e uma serra emoldurando o plano de fundo, fazem da pacata Trinidad uma cidade com atmosfera diferente do que vi em outras do interior cubano.
A cidade, que é considerada Patrimônio Mundial da Humanidade desde 1988, tem uma população de pouco mais de 50 mil habitantes e uma quantidade surpreendente de edifícios históricos preservados.
O centro histórico foi restaurado há pouco tempo e está muito bonito e colorido. É fácil imaginar como era a cidade no início do século XIX, no auge do seu esplendor e riqueza devidos principalmente ao comércio de açúcar.

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Trinidad fica a 317Km de Havana

O que fazer

O ponto central da cidade e que abriga o maior número de atrações é a Plaza Mayor. Ao redor dela estão concentrados edifícios de grande valor arquitetônico.

A Igreja da Santíssima Trindade, construída no século XIX, domina a paisagem na praça.

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Igreja da Santíssima Trindade na Plaza Mayor

Ao lado da igreja, no Palácio Brunet, um grande casarão colonial, está o Museu Romântico que conta com uma exposição de móveis e objetos pertencentes às famílias ricas de Trinidad do século XIX.

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Palácio Brunet e a torre do mosteiro de São Francisco ao fundo

Bem próximo à praça fica o Museu Histórico Municipal também chamado Palacio Cantero, devido ao nome do seu ex-proprietário, um latifundiário alemão chamado Kanter. Acabei não visitando esse museu.

Também a alguns passos da praça fica a igreja e mosteiro de São Francisco. Esse é o ponto turístico que mais chama a atenção na cidade por causa da torre com um campanário visível à distância.

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Casario colonial e o Mosteiro de São Francisco

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Fachada do Mosteiro de São Francisco

Essa igreja foi construída em 1730 e em 1895 foi transformada em guarnição do exército espanhol. Em 1930 uma boa parte da edificação foi demolida, sobrando o campanário e algumas partes. Hoje o local abriga o museu de La Lucha contra Bandidos.

O museu em si não é muito interessante, a menos que você esteja MUITO interessado na história cubana, porém recomendo muito a visita pela vista que se tem do alto da torre do campanário. Com certeza é o melhor ponto para se ter uma visão panorâmica da área central da cidade.

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Vista do campanário do Mosteiro de São Francisco

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Parte do centro colonial de Trinidad e da serra do Escambray vistas do campanário do mosteiro de São Francisco

Além dessas atrações, vale muito a pena explorar com calma as estreitas ruazinhas do centro histórico e admirar a arquitetura bem preservada das casas. Há também opções muito boas de locais para comer, além de muitas lojas e barracas de artesanato.

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A Plaza Mayor num final de tarde

Pra fechar, Trinidad tem uma bela praia a 5Km do centro, a Playa Ancón. O que é um pouco estranho nessa praia é que para chegar nela é precioso atravessar um hotel (Club Amigo Costasur), pois a praia fica nos fundos.

A praia não é muito grande, mas é bonita e o mar bem calmo. A maioria dos frequentadores são os hóspedes do hotel. É possível usar os sombreros do hotel sem pagar nada ou alugar espreguiçadeiras por 2 CUCs (cerca de 4 reais). Os funcionários do hotel não se importam se você é hóspede ou não, de forma que se pode circular pela praia tranquilamente.

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Playa Ancón com o hotel ao fundo

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Playa Ancón

As opções para ir até lá são a van que sai da Rua Antonio Maceo, em frente à HavanaTur, táxi ou bike. A van tem 3 saídas diárias e custa apenas 2 CUCs (ida e volta). Os táxis ficam em torno de 5 CUCs. Bicicletas podem ser alugadas no centro e são uma boa opção, pois o caminho é bonito, mas são mais caras que a van e o sol é de rachar…

Os arredores

Fora da cidade também há alguma atrações bem interessantes. A própria estrada que liga Trinidad a Cienfuegos (carretera 12) é muito bonita, especialmente no trecho que acompanha a praia, passando por várias pontes sobre rios que deságuam no mar.

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Algumas pontes na estrada Cienfugos-Trinidad

A uns 20 quilômetros de Trinidad fica o Parque Natural Topes de Collantes. O parque faz parte do complexo montanhoso da Serra do Escambray e fica a uns 800 metros acima do nível do mar. Dentro do parque há muitas atrações naturais, como cachoeiras e trilhas. Duas cachoeiras são bem populares, o Salto del Caburni e o Vegas Grandes, mas a trilha para chegar até eles exige alguma horas de caminhada entre ida e volta. Como já era tarde quando passei pela região e precisava chegar até Cienfuegos eu desisti de ir até lá.

Um ponto de parada obrigatória na estradinha cheia de curvas de Topes de Collantes é o Mirador Del Caribe, um mirante onde se tem um ótima vista da serra, com Trinidad e o mar ao fundo.

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Uma chuva de verão prejudicou um pouco a vista do mirante no alto da serra…

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…mas depois o tempo melhorou e foi possível avistar Trinidad

Onde ficar

Eu pretendia ficar no hostal Casa Miriam, que tem excelentes indicações. Porém, como não havia feito reserva antecipada e estava lotado fiquei em outra casa indicada pela própria Miriam, a Casa Meyer.
É um bom local principalmente pela localização. Fica bem no centro e é interessante também por ser uma casa colonial que parece ter parado no tempo. Toda a decoração e mobília são muito antigas, mas tudo bem cuidado e limpo.
O meu quarto era bem simples e sem os confortos que encontrei em outras casas, como TV ou banheiro no quarto. O banheiro era coletivo e na casa não tinha café da manhã. Mas o quarto era limpo, a cama confortável e dormi bem. A proprietária não mora no local e isso é um pouco estranho, pois eu recebi as chaves do quarto e da porta de entrada e raramente via alguém por lá…  Não foi uma das melhores estadias em Cuba, mas valeu pelo custo x benefício. Se quiser pagar pouco e permanecer mais tempo na rua é uma opção válida

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A entrada da Casa Meyer, que parece ter parado no tempo

Onde comer

Trinidad tem vários bons restaurantes, a maioria se concentra no centro histórico.  Os preços são razoáveis e não optei por pratos caros. Vai de pesquisar os cardápios e preços na hora.
Se quiser gastar realmente pouco uma opção são as pizzas assadas na hora e vendidas diretamente nas portas de algumas casas, coisa comum em todas as cidades que visitei em Cuba. São pizzas pequenas para comer na rua mesmo ou levar para o local onde se está hospedado. Se você tiver bom papo consegue pagar em “moneda nacional” por valores baixíssimos.

Como chegar

Eu fui de carro alugado desde Santa Clara, via carretera 12, mas ônibus da Viazul ligam Trinidad a vários destinos de Cuba, como Havana, Varadero, Santiago de Cuba e muitos outros. O terminal de ônibus fica bem no centro da cidade. Existe também um aeroporto na cidade (Aeroporto Alberto Delgado), que opera voos regulares e fretados a partir de Havana e Varadero.

Cuba V – Cayo Santa Maria

Atualização: eu estive em Cuba em 2015, então considere que algumas coisas mudaram por lá nos últimos anos, em especial no que se refere ao acesso à tecnologia.

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Playa Salinas no Cayo Santa Maria

Eis um lugar que me deixou com opiniões divididas. Cayo Santa Maria é um lugar lindíssimo, sem a menor dúvida, porém traz à tona – e de maneira explícita – as diferenças sociais existentes em Cuba, por mais que o regime diga que isso não existe.

Antes de qualquer coisa, para dar uma ideia de como é o lugar, segue uma explicação sobre o que são os chamados cayos.  Pela definição constante na Wikipédia, cayos são pequenas ilhas rasas, arenosas, formadas na superfície de um recife de coral. Frequentemente alagadiças apresentam-se cobertas de mangue em sua maior parte, e as praias são de baixa profundidade. Em geral ocorrem apenas em ambientes tropicais

Existem outros cayos em Cuba, como o Cayo Coco e o Cayo Largo, que são até mais badalados que o Santa Maria, mas não visitei esses.

O Cayo Santa Maria fica a cerca de 390 km de Havana e 120 km de Santa Clara. São várias ilhas ligadas por 46 pontes através de um estrada pavimentada de 48 Km. Essa estrada é chamada “El Pedrapen” , foi construída entre 1989 e 1999 e é impressionante, uma grande obra de engenharia do tipo que não esperamos encontrar em Cuba.

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Uma das dezenas de pontes do “El Pedrapen”

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O cair da noite na belíssima estrada do “El Pedrapen”

Cayo Santa Maria faz parte do ecossistema da Baía de Buena Vista, declarado pela UNESCO como uma “Reserva da Biosfera”. É um lugar rico em espécies endêmicas protegidas por praias de beleza incomparável, com areia branca e fina e um mar de variados tons de azul.

Pois bem, é um lugar realmente fantástico, mas por que eu disse que me deixou com opiniões divergentes? Bom, Cayo Santa Maria é uma Cuba “para turista ver”, muito diferente do que vi no restante do país. O lugar é cheio de resorts de alto luxo e quase todas as praias ficam dentro desses resorts. É possível visitar essas praias pagando uma taxa nos resorts e em alguns deles o valor pago dá direito ao consumo de comidas e bebidas. Existe uma única praia cujo acesso é livre, a belíssima Playa Salinas, a qual espero que a especulação imobiliária não transforme em particular também nos próximos anos.

O problema é que o cayo é quase inacessível para a grande maioria dos cubanos, pois além do fato de ter somente esses resorts e hotéis luxuosos e o acesso pago à maioria das praias, fica num lugar isolado e é preciso pagar pedágio (4 CUC, cerca de 4 dólares) para entrar e sair. Na verdade, até algum tempo atrás, os cubanos eram proibidos por lei de entrarem no cayo! Hoje a entrada é liberada, mas poucos têm dinheiro para pagar o pedágio.

99% dos cubanos que entram lá são empregados dos resorts, taxistas ou trabalhadores da construção civil, como era o caso de um rapaz a quem dei carona.

Então, valeu a pena sim conhecer o cayo, mas é triste pensar que um dos lugares mais lindos de Cuba não é acessível à grande maioria de seus habitantes. Se um rico turista europeu passar suas férias “internado” em um confortável resort all inclusive por lá, com certeza voltará pra casa dizendo que Cuba é maravilhosa, que tudo lá é perfeito e que o que dizem do país não condiz com a realidade. Não. Cayo Santa Maria é um mundo à parte dentro de Cuba.

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Entrada de um dos resorts do cayo

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Dentro do mesmo resort todo um “pueblo” foi reproduzido. Mas não se engane, isso nunca foi uma autêntica cidade cubana, é apenas um shopping ao ar livre para turistas endinheirados…

Como chegar

Como eu estava de carro e hospedado em Santa Clara, cheguei ao cayo sem problemas e pude circular bastante por lá. A outra forma é de taxi, que deve ser negociado nas cidades próximas. Existe também um aeroporto no cayo, mas não faço ideia dos custos de voos para lá e nem de onde partem.

O que fazer

Eu me recusei a pagar para usar as praias dos resorts e fui na Playa Salinas, a única com entrada livre (de carro deve-se entrar à esquerda na estrada de terra logo após o aeroporto). Essa praia é lindíssima e segundo o que me disseram não perde para nenhuma das que ficam nos resorts. É uma autêntica praia do caribe, com mar de águas transparentes, quase sem ondas e areia fina e branquinha. Lá encontrei apenas uma família de cubanos, uma meia dúzia de europeus e um casal de brasileiros com seu bebê.

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A belíssima Playa Salinas…

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…última opção free no cayo.

Seguindo o “El Pedrapen” por mais uns 4,5Km se chega a um delfinário, onde é possível interagir com golfinhos. Normalmente passo longe de atrações que envolvam animais confinados, mas resolvi entrar pra ver. A entrada é paga e tudo no local é bem caro, mas conversei na portaria e consegui entrar de graça. Isso porque poucas pessoas chegam lá pela estrada, a maioria vem dos resorts em catamarãs ou lanchas, como era o caso de um grande grupo de turistas que estava interagindo com golfinhos.

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Entrada do delfinário

Achei interessante por ser algo que nunca havia feito, e como os golfinhos ficam em tanques bem grandes, construídos no mar, não achei tão cruel (mas preferia vê-los livres, claro) e resolvi perguntar se podia participar. Disseram que era uma atividade apenas para os turistas que vieram nos catamarãs e pagaram um pacote para fazer isso, mas conversando consegui entrar junto com o grupo pagando uma taxa menor (algo em torno de uns 60 reais). Na verdade, tudo nesse lugar é pago, até as fotos, que são tiradas por fotógrafos quando as pessoas estão na água; mas também consegui fotos free tiradas pelo camarada que me deixou participar… 🙂 Tirando o fato dos golfinhos estarem presos, foi uma atração interessante, porém dificilmente você conseguirá participar se não fizer parte de um grupo de turistas e se não estiver hospedado nos resorts.

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No delfinário você pode interagir com golfinhos. Desde que sua carteira esteja bem recheada… 😦

O último lugar onde fui em Cayo Santa Maria foi a Playa Las Gaviotas. Essa praia fica bem no final da estrada e não pertence a nenhum resort, mas tem entrada paga (com um valor bem mais em conta, 1 CUC). Chega-se a praia através de uma trilha de uns 500 metros. É uma bela praia, mas Las Salinas é bem mais bonita. Como existe um resort próximo, havia alguns europeus e canadenses por lá. Valeu a pena para conhecer, mas é dispensável.

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Por uma trilha na mata…

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…chega-se à Playa Las Gaviotas.

Onde ficar

Nos resorts, se o seu perfil de viajante for esse. Para os mochileiros como eu as opções são as casas de família fora do cayo. Eu vim de Santa Clara, mas as cidades mais próximas são Caibarien e Remedios.

Onde comer

Nos resorts… rsrs… Possivelmente exista comida para comprar no único posto de combustível do cayo, que fica em frente ao aeroporto, mas, como tudo por lá é caro e eu estava tentando economizar ao máximo, já que estava pagando os olhos da cara no aluguel do carro, não comi nada. Havia caprichado no café da manhã no hostel e aí deixei para comer só à noite no retorno à Santa Clara. Se não quiser gastar muito e for apenas para passar o dia no cayo, o ideal é levar água e comida.

 

Cuba IV – O que ver e fazer em Santa Clara

Atualização: eu estive em Cuba em 2015, então considere que algumas coisas mudaram por lá nos últimos anos, em especial no que se refere ao acesso à tecnologia.

Teatro La Caridad no Parque Leôncio Vidal, Santa Clara

Teatro La Caridad no Parque Leôncio Vidal, Santa Clara

Santa Clara está a 268Km de Havana. Capital da província de Villa Clara, a cidade fica quase no centro geográfico da ilha.

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Santa Clara teve um papel importante na Revolução Cubana quando Che Guevara descarrilou um trem blindado do exército em 1958, sendo esse ato considerado como um dos golpes finais e decisivo para a vitória dos revolucionários.

Uma característica da cidade é o ambiente um tanto mais liberal se comparado às demais cidades cubanas, principalmente devido aos cerca de 35 mil jovens que estudam nos cinco centros universitários do local.

Como chegar

Eu fui de carro alugado, desde Havana, via Autopista Nacional. De ônibus a empresa que leva a Santa Clara é a Via Azul, consulte os horários e valores no site.

O que fazer

O principal atrativo da cidade é o
1) Memorial Che Guevara. Esse memorial é um museu com diversos artefatos relacionados ao Che e à revolução cubana. Os restos do guerrilheiro estão depositados nesse local, embora não se possa ver nenhuma tumba ou coisa parecida. Externamente chama a atenção a amplidão do lugar, com um grande estacionamento e uma imensa estátua de Che. Lembra as construções russas do tempo da Guerra Fria. Há também um grande painel com relevos alusivos aos heróis da Revolução e uma imensa reprodução da carta que Che enviou a Fidel ao deixar Cuba.

O memorial foi construído em 1997, após terem sido encontrados os restos mortais de Che Guevara.

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A amplidão do lugar lembra as construções da antiga URSS

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Painel alusivo à Revolução e a imensa estátua de Che Guevara

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Reprodução da carta enviada a Fidel por Che Guevara quando este deixou Cuba

Não sou nenhum admirador de Che & Cia., mas isso não vem ao caso. Ao se visitar um local desses estou interessado na história e na cultura do país, independente de opiniões pessoais. Ou seja, é em lugares como esse que se entende a essência da Cuba atual.

Como chegar: do Parque Leôncio Vidal, que é a praça central da cidade, são cerca de 1,7Km até o Memorial. Eu fiz o trajeto a pé e acho que é a melhor forma de ir até lá. Saindo pela extremidade da praça, próximo ao Teatro La Caridad siga pela Calle Marta Abreu por cerca de 1Km. Quando essa rua fizer a primeira curva à direita você estará nas imediações do Memorial, devendo ir para a esquerda. No caminho não deixe de ver os interessantes grafites, que são charges com críticas ao imperialismo em um muro à sua esquerda.

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Entrada: franca.

2) O terminal de ônibus intermunicipal e o “terminal” de táxis esses locais não são pontos turísticos, mas me chamaram muita atenção e já que ficam no caminho para o Memorial Che Guevara – no cruzamento das calles Marta Abreu e Amparo – vale muito a pena dar uma espiada aí. No terminal de ônibus (que não é o mesmo por onde sem chega na cidade vindo de Havana) tem uma grande quantidade de caminhões antigos com carrocerias convertidas para levar passageiros. São usados pelos cubanos nos deslocamento mais curtos, para o interior do município e para as cidades mais próximas.

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Os “ônibus” cubanos no terminal…

Mas o que mais chamou minha atenção foi uma espécie de “terminal” de táxis do outro lado da rua. Os táxis funcionam como lotações, fazendo percursos também para localidades próximas a Santa Clara. O que impressiona é que o lugar parece um imenso museu a céu aberto; havia pelo menos uns 20 carros chegando e saindo do local, todos, absolutamente TODOS dos anos 50! Nem precisei de muito esforço de imaginação para se sentir em plenos anos 50! Algo assim só é possível em Cuba!

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Anos 50? Não, esta foto foi tirada em 2015 e não é de um encontro de carros antigos!

3) Memorial do trem blindado: como já citado, Che Guevara descarrilou um trem em Santa Clara, com a ajuda dos camponeses e isso marcou o fim da ditadura de Fulgêncio Batista. O trem transportava 480 soldados e armas para a região leste de Cuba. O monumento recria o evento no local onde aconteceu e é possível ver quatro vagões blindados nas posições em que ficaram após o descarrilamento. Dentro deles há planos militares, armas e outros objetos. Até o trator usado pelos guerrilheiros para remover os trilhos do trem está preservado no local.

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Memorial do trem blindado

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Até o trator usado por Che está preservado no local

Como chegar: a pé é a melhor forma. Do Parque Leôncio Vidal ao Memorial são cerca de 700m. Se seguir pela calle Buen Viaje irá passar pela Iglesia de Buen Viaje, que não tem nada de sensacional, mas é interessante para quem aprecia. Seguindo após o memorial por mais 400m pela Avenida Liberación, existe uma estátua de Che Guevara carregando um menino (El Che com nino). Não chega a ser um ponto turístico, mas é uma bela escultura.

Também se achar interessante, no retorno pode seguir a linha do trem até a estação da cidade (600m) e voltar ao centro por outras ruas. Com alguma sorte você verá a movimentação dos trens de passageiros cubanos.

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Entrada: paga. Tem um preço para observar os vagões por fora e custa um pouco mais para vê-los por dentro.

4) Parque Leôncio Vidal: é a praça central da cidade. Local altamente recomendado para relaxar e passar o tempo sentado num banco, apenas observado a vida passar. Sempre tem bastante gente, mas é no final da tarde, quando o sol se põe e a temperatura fica mais amena, que a praça começa a encher e o pessoal fica até bem tarde da noite passeando e conversando. É o centro da vida social em Santa Clara. No meio da praça existe um coreto e com um pouco de sorte você poderá ver alguma apresentação interessante, como a ótima banda local que pude ver tocando músicas cubanas.

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Parque Leôncio Vidal, o coração de Santa Clara

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Coreto no centro do Parque Leôncio Vidal

Destaque para a imensa tranquilidade e segurança do lugar. Há crianças brincando, famílias passeando, jovens e idosos conversando… Enfim, é onde a população se reúne para conversar e fofocar.  Outra coisa bacana é que, ao contrário de Havana, ninguém vem incomodar os turistas oferecendo coisas ou pedindo dinheiro.

Ao redor da praça existem diversos edifícios históricos, com destaque para o Teatro La Caridad (não estava aberto quando estive lá, mas pelas fotos que vi, é muito bonito por dentro).

Compre alguns churros, um “refresco” ou um “helado” dos sorveteiros que ficam pela praça e relaxe sem preocupações num banco. Pertinho da praça existe também a Heladeria Coppelia, a mais famosa sorveteria cubana. Os cubanos fazem filas imensas na calçada para comprar sorvetes da Coppelia, mas os turistas entram por outro lugar, livres de filas (e pagam mais caro). Mais uma das contradições cubanas…

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A praça permanece cheia até altas horas da noite

Essas são as principais atrações da cidade, mas existem as secundárias, como o Boulevard (um calçadão para pedestres), a Catedral de Santa Clara de Assis, a Loma Del Capiro (morro de onde se pode apreciar a cidade e imediações), etc.

Onde ficar

Recomendo, sem a menor dúvida, o Hostal Ana.

Os três dias que passei na casa da Ana foram excelentes. O quarto era muito bom, limpo, com boas camas, ar condicionado, TV e banheiro.
A Ana é uma ótima pessoa, muito simpática e faz de tudo para você se sentir em casa. Além das dicas sobre as atrações de Santa Clara, me deu ótimas indicações para outras casas de família nas demais cidades que visitei depois (Trinidad, Cienfuegos e Varadero). Todas essas casas indicadas seguiam o padrão da dela: com boa localização e proprietários cordiais.
O café da manhã e demais refeições (cobrados à parte) foram muito fartos e saborosos.
A rua em frente é um pouco barulhenta, mas não chegou a ser um problema para dormir.
A casa está bem localizada, a umas 5 ou 6 quadras do Parque Leôncio Vidal, onde se chega em cerca de 10 minutos a pé.

É necessário fazer reserva com uma boa antecipação diretamente com a Ana através do e-mail anpema1962@yahoo.es

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Meu quarto no Hostal Ana: conforto e espaço de sobra

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Almoço no Hostal Ana, boa comida ao estilo cubano

Onde comer

Eu optei por comer no hostal da Ana mesmo, pois por um preço justo ela preparou ótimas refeições, o que compensou mais que procurar na rua.

Uma opção para lanches rápidos e econômicos em Santa Clara e demais cidades cubanas são as pizzas vendidas na rua, diretamente nas portas de algumas casas. São pizzas pequenas, como as “pizza brotinho” do Brasil, servidas num pedaço de papel e que as pessoas comem na rua mesmo. Custam baratíssimo e você pode pagar com “moneda nacional” se não der pinta de turista na hora de comprar.